reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quarta-feira, maio 30, 2007


Apesar da nebulosidade, o dia amanheceu pedindo ligeireza nas vestes. Maio a finalizar e apetece renovar a imagem. Greve geral às masculinas calças e toca de enfiar uma saia bem feminina numa cor que alegre a Primavera envergonhada que temos experimentado. Fiz greve. Assumida. Às calças também. Mas, na generalidade, o dia correu mal, devido à política caseira que, da outra, já mostrei o meu (des) agrado.

Escolhido um espaço ao ar livre para fazer umas compras que urgiam do calendário aniversariante do pessoal TODO cá de casa, aí vou eu aproveitando a tarde para a tarefa, sempre agradável, quando não se levanta um vento curioso que nos descobre a toda a hora o que era suposto a saia esconder.

Houve quem visse como resultado da greve, que fiz, 12%; houve quem visse 80%; eu senti-me nua e atraiçoada pelo vento e por quem não mostra tento. Amanhã volto às "calças"!

domingo, maio 27, 2007



Santarém investe 1,7 milhões de euros no projecto



"O Jardim das Portas do Sol, a sala de visitas de Santarém que aguarda há décadas por obras de melhoramentos, vai ser requalificado. O presidente da câmara, Francisco Moita Flores, quer dar um novo impulso ao jardim mais emblemático da cidade, com financiamento do programa Polis. O custo da obra será de 1,7 milhões de euros e deve estar concluída no prazo de um ano.Já foi elaborado um projecto prévio por uma equipa de técnicos da câmara, que permitiu lançar o concurso público na segunda-feira. A complexidade do projecto deve-se ao facto do jardim se encontrar numa zona sensível de barreiras instáveis, parte das quais desabaram há seis anos atrás, destruindo dois troços de muralhas medievais, e ao elevado potencial arqueológico do local, que contém vestígios de ocupação humana desde a Idade do Ferro. O presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores, afirma que se mantêm a filosofia de intervenção, que pretende preservar o jardim romântico, e o programa definido por uma comissão que integrou o arquitecto Ribeiro Teles. Para não perder mais tempo, os técnicos da autarquia elaboraram já um projecto prévio para a requalificação. A valorização do Jardim das Portas do Sol vai implicar a construção de uma nova estrutura de apoio de bar mais leve e contemporânea do que o actual quiosque que será demolido. Será criado um centro de interpretação de apoio ao visitante, com um percurso arqueológico apoiado por sinalética e painéis.O espaço da antiga alcáçova vai ser o ponto de partida para os percursos histórico-culturais da cidade. Vão ser instalados dois miradouros virtuais para auxílio na interpretação e observação da paisagem da lezíria. O projecto contempla a construção de um anfiteatro para espectáculos ao ar livre e um parque infantil. O jardim das Portas do Sol ocupa uma área de 17 320 metros quadrados."

In DN de 27/05/07

Ando a braços com um sonho que não entendo. Não sendo exacto na sequência dos acontecimentos, traz na matriz o mote. Entre ateia e agnóstica me situo e da religiosidade na educação não me safo. Nesta trilogia balanço com a razão a tombar para o cepticismo e o sonho a revelar a necessidade de confissão.

De criança, me lembro da importância que teve em mim a professia quando me anunciava que " A mil chegarás de dois mil não passarás". Recorrendo à matemática da minha vida, depressa percebi que aos quarenta seria apanhada pelo novo milénio e a premonição me arrastaria para o além. Seria velha. Assim me via. Embora, as constantes referências das "raparigas da minha idade...", apregoadas pela avó de sessenta anos, me remetessem para a dúvida. Seria amputada do viver que tanto queria, mas a distância tranquilizava-me e a idade esclareceu-me.

Vejo-me, agora sonhando, emprateleirada à espera do juízo final! Viva e esperando a chamada para julgamento.

Homessa!, mas isto não me diz nada! Os balanços com a consciência vão sendo feitos em sururus internos que do grave não se alimentam nem nele resvalam. A contas com a vida já me senti e a ceifeira da mesma já me rondou em neoplasia que venci. Redobrei no ânimo, deixei crescer as garras em jeito de âncora e, saboreio as alvoradas com colheradas de renascimento e gula de viver. Sugo dos dias a frescura e a serenidade dos quarenta, numa entrega que transforma esta década na melhor da minha vida.

Da leitura nocturna, Orhan Pamuk, em Cidadela Branca, têm-me feito companhia e, alheio ao sonho repetido não será inocente. Espelhos... muitos "espelhos", onde se mistura a realidade e o sonho, uma fábula sobre identidades, onde a questão principal reside em "por que é que eu sou eu?"

Talvez seja o contágio da leitura e esta questão filosófica que me levam a esperar que alguém superior a mim, me diga finalmente, se eu sou aquilo que penso ser, se sou o que vivo ou o que sonho, se...se...se... crises existenciais sempre latentes.

quinta-feira, maio 24, 2007



Poema do Rodrigo, um aluno de 8 anos, que gosta de poesia. Congelem-me a progressão na carreira, mas haverá sempre alguém perto de mim que me manterá a chama acesa. Só por eles vale a pena continuar.


Viver a brincar...

Os adultos diriam:

gostava de ter vivido a brincar!

Um sonho que toda a gente queria realizar!

Impossível! Dizem outros.

Quem é adivinho não diz isso

diz que somos crianças para todo o sempre!

Mas como?

O importante não é a nossa idade

mas sim uma estrela que temos dentro de nós.

Uma luz que nunca se apaga

mesmo quando estamos sós!!!

O importante é não desperdiçar isso

os brinquedos que temos

o amor que nos dão!

É só isto que vos digo:

libertem-se!

Vão ver que conseguem voar até ao outro lado do mundo!

Isto tudo é:

Viver a brincar!

terça-feira, maio 22, 2007

You Make Me Feel Brand New


Ligação directa ao desprezível sentimento da indiferença. Antes vernáculo palavrão que punhais de distanciado silêncio. Sabido, construído, planeado. Bebeu da àgua até saciar a sede e nos últimos goles sente-se o vómito do ego cheio. Pronto a cuspir o alimento que lhe deu energia de erguer a sombra que já não o seguia. Já não precisa, dispensa, ignora, evita, expele da voz o tom da fartura, em evasivos reparos de ocasião. Rápidos, esquivos, assombrados pela crueldade que sabe ferir mas que sadicamente gosta de infligir como vingança exterior de um interior recheado de orgulho.



Tenho a alma a pingar...acho que me piquei nas silvas! Restam-me as nódoas de amora que se esbateram em mim, restos de sucos silvestres que apanhei ao entardecer.

O que vale é que não tenho tempo para pensar em arranhões, chagas e vermelhões, trato tudo com betadine pró corpo que a alma o há-de absorver.

segunda-feira, maio 21, 2007



A telha dos dias



A fúria dos dias atira-me conpulsivamente para o sofá, para a horizontalidade do leito. Resisto ao apelo sedutor da inacção. Chega o anoitecer e fecho as janelas à noite e à vida que me sacode e me bate como a um saco dependurado exposto a boxer enraivecido. Arrefeço esta preguiça física com actividade intelectual que não cola. Não me apetece ler, não me ligo à escrita, as tintas esperam que as mãos peguem nos pincéis e organizem uma orgia de pigmentos, os ombros caem-me numa postura inerte, o Luís Sá irrita-me cada vez mais, a corrida à Câmara de Lisboa parece-me sete(12) cães a um osso duro de roer, já vejo a Helena Roseta a ganir agarrada à canela da esquerda, a Madeleine não aparece( quanto maior o alvoroço mais se esconde o pescoço), a febre liga-me de hora a hora pela voz da minha filha, as Provas de Aferição do 4º ano vão dar que falar e a mim tiraram-me a hora de almoço.


Que é isto?! Mau feitio?Astenia da Primavera? Mas onde é que ela anda?!


O melhor é ir tomar o lítio da avó.


quinta-feira, maio 17, 2007




Edulcorantes fabricados em série...olhar diabético de quem não sente na mesma medida.


Moralismos

Decadência de mentes desmoralizadas, que procuram reconstruir-se, arquitectando sentidos sujeitos a formulário. Especializam-se por temas, repetem-se casseteando vezes sem conta o discurso de nariz levantado, de dedo em riste, numa auto-estima quase sempre reticente. Outros há que de gramáticas de comportamento se tratam, tanta a regra de sintaxe que, para cada caso, alardeiam- para os outros claro! Surgem como pavões de penas descoloridas e perras no leque. De sorriso emperrado e quase sempre empedernidos por falta de humor( de amor?), transformam a vida dos outros em auditórios de seca.

Austeridade na receita é coisa que não me apraz. Gosto de fruir da liberdade, da imaginação e da vontade e com verdades absolutas há muito que me descasei. Do direito e do avesso observo as linhas com que me coso à vida e, pontos há, que nem sempre são aprimorados, pela urgência do momento, pela incerteza do olhar ou instabilidade momentânea, mas nada que me leve à fustigação e ao desnorte da integridade. Se comigo ressalvo pequenos deslizes, aos outros dou o mesmo benefício. Mesmo nos grandes trambolhões com traça de desacerto e de desequilíbrio previsível, existem códigos de jurisprudência que me levam a nunca julgar mas a tentar perceber a perspectiva do acidentado. Coisas da vida, razões que a própria razão desconhece! Nestes casos a palavra dita será sempre para recobro, esperando que ao outro não falte a luz no momento da aprendizagem.

Apegada à moral e à ética e respeitadora do direito, vêm-me esta tolerância de dentro sem necessitar de esforço para a cultivar. Placidez ou apatia dirão alguns. Respeito pelos outros, direi eu, com ausência de moralismos ferrugentos e ácidos de cinismo. Ojectividade ao entender que a vida não é trilho fácil e que cada um vai ripando o trigo da forma que pode. Saibamos reconhecer o jóio que em todos nós lavra e que isso nos leve a entender que na nossa eira ainda há muito por fazer.

De repente, achei-me moralista! Onde está a arma?


Ser mulher...hoje
Sem a arte de dizer, digo! Para quatro mulheres admiráveis, que ontem tiveram um dia muito especial. Mulheres do Ribatejo, onde as emoções se pegam de caras.


No colo do peito amam a vida
entregam de si um brilho de luta
saem da noite em constelação perfeita
e sugam das leis atenta escuta.
Mulheres inteiras de rosto puro
que no fel dos dias travam o acre
misturam sorrisos com pingos de sal
e selam abraços com choro de lacre.
Mulheres meninas, que lançam semente
procurando a pulso o sémen-verdade
entre vírus e pústulas de gente
elevam arribas à perversidade.
Mulheres, mães do mundo
que se afirmam no poder de dar
segregam vontades em torno de si
tingindo de sol a palavra amar!

sábado, maio 12, 2007




Sem pénis, nem inveja mas com toda a admiração

O Verão, as férias, o calor...,o tempo era propício a momentos de lazer que remetiam para tudo e para tudo eu me bastava, sobrando. Descobri-a acidentalmente viajando pelos blogs que ia lendo aqui e ali.Adorei a sua escrita. De Mulher inteira, apelativa, fresca, corajosa no que diz e pensa, docemente atrevida, sem preconceitos, informada e atenta, disciplinada na escrita e na vida. Tornei-me uma fã incondicional do seu blog e visito-a, desde então, com uma regularidade imperativa. Para mim o melhor blog feminino de 2006. Adicionei-o. Da Tati soube que se chama Teresa, sinónimo meu de amiga, pelo sentir forte que que esta denominação representa em mim. Da admiração à simpatia, foi um clic. Agulha em palheiro me sentia neste mundo da blogosfera e, que soubesse da minha existência, na multidão que a visita diariamente, era coisa impensável.
Lançou-me, afinal, um olhar que me surpreendeu, propondo-me um desafio que me chega em duplicado, mas que repetirei com o prazer das coisas simples e o aprazimento do inesperado.


Um beijinho Teresa


(*) Um "meme" é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".


"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas quando parte, nunca vai só nem nos deixa a sós. Leva um pouco de nós, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada”.

Kahlil Gibram




sexta-feira, maio 11, 2007

Um dos elos a que a Alice me prendeu...

"Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto."


Italo Calvino

(*) Um "meme" é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".

Agradeço a esta menina singular o desafio e proponho-o aos seguintes bloguers, esperando receptividade: Carecone, Once in a While, Save by the bell e ao professor certinho.
Bom fim-de-semana a todos!

terça-feira, maio 08, 2007




Este blog podia ser, e às vezes até é, um somatório de anedotas. Despretensão a minha e motivos diários o poderiam originar. Pretextos para muro das lamentações também não haveriam de faltar, embora não faça muito o meu género. Mas não resisto a uma pequena lamentação em jeito de anedota. A emoção circula livremente por aqui com as facetas que me moldam a alma e me fundem à vida.
Quis deste blog um encontro comigo...contigo fora da profissão, que para continuidade desta existe outro espaço online. Impossível! Aqui e ali surge a professora a impor-se e a ditar sentenças num espaço que não lhe pertencia, por regra. Deixo-a entrar, desde que não invada de escola o que à escola não pertence.
Mas nós somos um lago de contornos pouco definidos, alargamo-nos com enchentes de ternura, secamos sem afectos, nas margens alagadiças atolamo-nos de risos, de esforço, de contentamento, de insatisfação. Os professores também. Mas não podem. Que um professor devia ser monitorizado para nunca se sentir cansado, nunca ter uma dor de cabeça, uma falta de disposição...enfim, ele não devia ser como os outros seres. Atleta de alta competição, sempre, pronto a enfrentar as olimpíadas ministeriais e educacionais com a vida em entrega total. Ou pensam que se consegue atingir o que nos exigem/exigimos de outra forma?
E, às vezes, ao fim de um dia de mais uma semana exaustiva, o desconhecimento lacustre só pode ser encarado como uma anedota e elemento de fuga para a meditação e reequilíbrio de nós. Pela grandeza da pequenez da coisa e pela pequenez da grandeza que assume.
O João sabe o que é um lago, ele sempre o soube desde que se conhece por gente!, é daquelas coisas que de serem tão intuitivas não se espera que ninguém nos questione, principalmente quando se tem oito anos e o fim-de-semana promete ser tão especial!
- Professora isso é pergunta que se faça numa sexta-feira à tarde, embora na segunda haja teste?! Abre a janela e olha para as flores lindas que ladeiam o lago, repara na erva pintada de verde fresco, olha como os patinhos formam um V perfeito atrás da mãe pata!
Vitória, vitória acabou-se a história!

sexta-feira, maio 04, 2007


Quem o vê engraça logo com ele. Oito anos bem comprimidos num corpinho sem defeito p'ra botar. Em noites de festa, veste a rigor o fato de campino que lhe assenta como em figurino de medidas perfeitas.
Tudo o que é pequenino tem graça e ele ainda a tem, mas já teve mais. Dança o fandango com uma sabedoria nas passadas, que não há ali uma fora de ritmo. Habituou-se a ser centro dos ahs!, daqueles que nele vêem a mascote do Rancho Folclórico.

Do dançarino conheço-lhe os gestos, os hábitos, os gostos. Estes andam próximos da dança, do desenho e da conversa alheia. Gosta de dar fé de tudo, como diz a mãe. Mas a fé arreda-se da escola, que a dança das letras tem truques escondidos que é uma trabalheira desvendá-los. E os números?, o raio dos números até que dão as mãos uns aos outros e dançam o vira num sobe e desce que faz lembrar o Verde Gaio, mas embrulham os conceitos, arrefecem o raciocínio, obrigam a outra marcação que não a da melodia que se cantarola papagueando sem entender.

O lago deu que falar! Meteu água. A propósito dos meios aquáticos, veio o lago à baila. O nosso dançarino não sabia descrever um lago, nem por palavras nem por desenho. Estanquei. Flashes de lagos visualizados e escritos surgiram-me em catadupa. Que fez com eles?!
E do quadro preto se fez lago, com patos e o arvoredo enquadrante. À hora de sair pedi que ficasse. Se não sabia o que era um lago será que perceberia o que era essa coisa de oceano?

-João, já viste um oceano?

- Se vi não me lembro.

- Nunca foste à praia?

- Já(poucas).

- Onde tomas banho, na praia?

- Nos balneários.

[Abracei-o com os olhos. Expliquei-lhe tintim por tintim os mistérios da água no planeta( mais uma vez).]
- Percebeste João?
- Sim, professora. E sabe?, amanhã, vou aprender a desmanchar um porco mais o meu pai e o meu tio.

Por que não me inscrevi ainda no Yoga????