reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

terça-feira, agosto 02, 2011

intensidade

da intensidade conheço-lhe o sabor. das mãos que se unem . das bocas em fogo. do calor dos dias. da invernia nos ossos. dos desejos e ensejos. dos vendavais no templo. a mensurabilidade do nomeado é vínculo do querer. da vontade indómita. da impressão expressa. da destreza da acção. do sabor retirado e da memória que resiste. para além do tempo e do espaço. fica a recordação imutável de momentos. bons e maus. a qualquer género se aplica. há-de perdurar aquilo que na intensidade superou o expectável. e volta em lembrança sem denotado querer. ao abrir dos olhos ainda a luz nas pálpebras cerradas  ganha forma de pequeno sol. ao adormecer. ao dobrar a esquina. por serem os sentidos a matriz das estórias dignas da vida. salta na mente e o corpo sente num tombo faiscado de ternura ou temor. é na intensidade que se alonga o feito ou desfeito. é aí o que o amargo ou o mel se fixam  no ser. uma noite sem glória. um dia sem gente. de repente à tona vem à memória aquela estória que carimbou a mente.

segunda-feira, agosto 01, 2011

trazem o pecado atado à coleira

entre o sopé e o cume da montanha anda em transumância o rebanho dos mitos. é vê-los pastar e engordar a regência dos deuses. trazem o pecado atado à coleira do pastor. na lã fofa criam-se cardos de palha seca. sem qualquer serventia. tivesse vagar o pastor e retiraria um a um os miolos encarrapiçados da pele. mas não. o cajado é instrumento de difícil manejo. e retirá-lo dos costados para fazer o que ainda não foi feito é vantagem desbaratada pelo descrédito. no olimpo as ordens foram claras. olhar o rebanho com rigor no dito e no desdito bordão ao pêlo. que a fé é coisa feita a preceito do nascer do grito até a  gadanha ganhar firmeza no restolho e ceifar as varas informes lá pela tardinha. assim se avantaja o alimento dos deuses. aos súbditos criam-se frutos proibidos. para babarem ao vê-los. tocar é pecado mortal. comer nem se fala. deixem aos olhos o caldo salgado da prova restrita. mastigue-se o enfado sem sabor e uma ou outra  graça que aos trambolhões caia do céu. agradeça-se sempre. deite-se-lhe a mão quando aprouver aos altíssimos e a paz na terra o ditar.