reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

terça-feira, outubro 28, 2008

...porque a música me harmoniza as arestas dos dias, me serve os silêncios, em pautas de porcelena, trocados por beijos...uma rosa, quando o céu teima em não ficar azul...

domingo, outubro 12, 2008


momentos

uma agúdia chamou-me. há tanto tempo que não me ligavam nenhuma. fui ver. preta. reluzente. composta de metades cingidas por cinturinha de vespa. a mobilidade impressionou-me como sempre. tal como quando vejo um tractor manobrar um atrelado. pedia ajuda no transporte das pedrinhas que se amontoavam no caminho. sísifo dera-lhe aquele monte de pedrinhas para ela carregar. cansada daquela tarefa achou que eu viera do olimpo para a libertar da cruz. do alto do meu metro e sessenta e DOIS verguei-me à natureza outonal e quis saber da sua vida. falou-me em palavras "agúdias", grávidas de esperança e eu saí dali esdrúxula de conhecimento.

não. recuso-me a falar de como acabei por lhe queimar involuntariamente uma pata e de como pedi ajuda a um agudião que a levasse dali a voar.( a intenção era aquecê-la). que seja feliz no seu formigueiro. nunca mais aquecerei agúdias nem as usarei como isco aos pássaros. já lá vai o tempo em que com agúdias fazia holocausto. entrego-me ao tribunal internacional de Haia.


quarta-feira, outubro 01, 2008




assim sem vontade de escrever procuro as letras arrumadas em palavras e semeio-as ao vento fresco do sol posto. deixo ao critério manso deste outono crisálido o desfolhar das mensagens como se a vida andasse arredada da luz do dia. ouço os sons do sino da igreja anunciando horas que não simbolizam nada. não sei se o cão ladra ao som da crise instalada se afina a voz para uivar quando sairmos dela. a televisão opera os vegetais que somos numa inutilidade curativa. o silêncio da casa leva-me ao futuro repetitivo e ensurdecedor do barulho das paredes. o chip da transmutação instalou-se na soleira da alma e os números soltam-se-me no cérebro à procura da ordem crescente das prioridades sem lembrança de mim. seco a medula do trabalho horas a fio e fico encharcada dele pela noite fora como se mais nada fosse importante. adormeço e acordo só para vê-lo crescer e às vezes suspiro pela mama doce da preguiça.


ah, mas mesmo assim, os risos das crianças continuam a ser as páginas mais lindas do meu diário.