reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quinta-feira, abril 21, 2011






o dia acordou chuvoso e o vento batia na terra com a fúria de agressor sem piedade. arrastava os restos de inverno para a arrecadação do tempo sem escolha. a secura gretada das árvores era amolecida pelas chuvadas grossas. pingavam do céu as paredes dos corpos hirtos ao vento. as árvores anunciavam o sono de braços erguidos em lamentos que quebravam os ossos do silêncio. o sossego da casa encontrava-me em letargia. profunda. no cimo da porta um sino anunciou quebranto do medo. em espelho de luzes e sítios e asas de sonho. espantado e desperto virou das avessas as portas do dia anunciando o sol. milhas de caminho ecoaram no corpo luz da aventura. a descoberta como a única certeza. a certeza da alegria entre a partida e a chegada. hiato com formas de geometria perfeita envolviam a mescla de pudor e rasgo. rasgou-se o dia em serpentinas de montes perdidos dos olhos sedentos de rumo. encontro com deuses em sossego feito nós de abraços e laços de ternura. desmedida. como queda de água que se prende no peito e solta a torrente em vasos de mãos e bocas de ramos pendidos, quebrados pela força dos anos sem idade. gravidade serena em pêndulos de braços seguros. o barulho das águas soltava o tumulto doce em sangue de terra e fogo e ar e água.