reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quinta-feira, fevereiro 28, 2008



foges na rua estreita onde caminhas. procuras saídas a cada esquina lúbrica. soltas as asas perras de medo no beco onde te escondes. voo circular na altitude do chão barrento. perpetuas a desdita no desassossego que investe contra ti desconhecendo que é de ti que renasce a cada mão estendida de sol. serenas só. no tormento fungam-se as costas vulcânicas das garras. sente-se o querer no não saber o quê e pernoitas na soleira da porta caída de vagas ininterruptas de desordem. pressentes o perigo na proximidade e aprisionas no escuro o lado brilhante. como se o brilho fosse vergonha. como se os olhos fossem pecados e o coração órgão infesto. aprendes do braille os sinais de fogo e fúria. em acto desumano cegas-te.



sábado, fevereiro 23, 2008






há uma cidade que amanhece para a vida. os olhos cruzam-se em bons dias de sorrisos. a chuva chama impaciente as almas para a dança. dinamene sobrevoa o coração dos poetas e as epopeias repetem-se em novidades lusíadas. nas grutas forradas de amor e palavras crescem lentamente estalactites de calor. o eco soa finalmente lavado dos timbres de rasgos metálicos .

sábado, fevereiro 16, 2008


Não me lembro de ter escrito


Chegam as horas mortas

gastas nos olhos de areia

que varro no lento varejar dos cílios

Seguro a cabeça

do tempo

pensando acarinhá-lo

um pouco

tirá-lo da vazante

Jazem as horas

num avesso de quem precisa de tempo

para respirar

ao anoitecer

Liberto-me de cordas

de limos

penetro no sono líquido das noites

silenciadas

por dias de chumbo.



domingo, fevereiro 10, 2008


Eis-me


Tendo-me despido de todos os meus mantos

Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses

Para ficar sozinha ante o silêncio

Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente

Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca

O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras

E o teu encontro

São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite

Escura e transparente

Mas o teu rosto está para além do tempo opaco

E eu não habito os jardins do teu silêncio

Porque tu és de todos os ausentes o ausente




Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Os gatos imperfeitos que vou pintando vão sendo distribuídos pelos amigos. Porque da blogosfera saltam amizades verdadeiras que acolhemos com abraços, aqui ficam estes dois a simbolizar o "enrosca-te a mim" que deixei no Porto. Reforço de carinho, numa tarde linda para visitar amigos de quem se gosta muito, mas que a distância impede, fazendo do telefone e meio perfeito para matar as saudades logo pela manhã.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

segunda-feira, fevereiro 04, 2008



compraram a máscara para fantasiar o país da chuva melodramática de acontecimentos. mas há muito que todos andavam mascarados. nasceram com ela os cabeçudos, num entrudo extemporâneo de frenesim arrogante, prolongando de insónias e enterros do galo, os populares. escapam aos três dias de direito e, entram a eito, ano fora, tapando as fachadas sombrias, as fuças de asno, com a lusitana complacência por assistência.



sexta-feira, fevereiro 01, 2008



efe...mero

afago o fogo da fogueira afogada no frasco de favo-fel que folheio em forma de folha sem frente só verso. fali na fala do fado-fadango que festejava fervente a ferida com ferrolho férreo de fictícia figura flexível do ser. fluorescência de fogacho fugitivo como foguetão fugaz de fundação fundamentalista em busca de furo frutífero de saída. furacão forjado em fórmula-foral sem fonema na fonte onde forasteira força fustiga o formato fendido de vontade. filamento filantropo fiado na filosofia filtrada sem fito. ferocidade de feitiço.