reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

domingo, maio 27, 2007


Ando a braços com um sonho que não entendo. Não sendo exacto na sequência dos acontecimentos, traz na matriz o mote. Entre ateia e agnóstica me situo e da religiosidade na educação não me safo. Nesta trilogia balanço com a razão a tombar para o cepticismo e o sonho a revelar a necessidade de confissão.

De criança, me lembro da importância que teve em mim a professia quando me anunciava que " A mil chegarás de dois mil não passarás". Recorrendo à matemática da minha vida, depressa percebi que aos quarenta seria apanhada pelo novo milénio e a premonição me arrastaria para o além. Seria velha. Assim me via. Embora, as constantes referências das "raparigas da minha idade...", apregoadas pela avó de sessenta anos, me remetessem para a dúvida. Seria amputada do viver que tanto queria, mas a distância tranquilizava-me e a idade esclareceu-me.

Vejo-me, agora sonhando, emprateleirada à espera do juízo final! Viva e esperando a chamada para julgamento.

Homessa!, mas isto não me diz nada! Os balanços com a consciência vão sendo feitos em sururus internos que do grave não se alimentam nem nele resvalam. A contas com a vida já me senti e a ceifeira da mesma já me rondou em neoplasia que venci. Redobrei no ânimo, deixei crescer as garras em jeito de âncora e, saboreio as alvoradas com colheradas de renascimento e gula de viver. Sugo dos dias a frescura e a serenidade dos quarenta, numa entrega que transforma esta década na melhor da minha vida.

Da leitura nocturna, Orhan Pamuk, em Cidadela Branca, têm-me feito companhia e, alheio ao sonho repetido não será inocente. Espelhos... muitos "espelhos", onde se mistura a realidade e o sonho, uma fábula sobre identidades, onde a questão principal reside em "por que é que eu sou eu?"

Talvez seja o contágio da leitura e esta questão filosófica que me levam a esperar que alguém superior a mim, me diga finalmente, se eu sou aquilo que penso ser, se sou o que vivo ou o que sonho, se...se...se... crises existenciais sempre latentes.

2 comentários:

CPrice disse...

uma coisa eu, que de superior não tenho nada, posso desde já garantir-lhe sine *: feliz a pena nessa mãos sábias, orientada por um cérebro brilhante :)
E mais .. ? Só um abraço pela vitória
Beijinho

sinédoque disse...

Once in a while- Obrigada minha querida!, pelo abraço. Há dias em que sentir o vento no rosto é agradecer segundas oportunidades. Eu agradeço-as alegremente...nostalgicamente...ao correr dos dias.