reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

segunda-feira, abril 30, 2007

Portal de mim. Aldraba do tempo. Deixei-me entrar num turbilhão doce de imagens que me trouxeram recordações dum passado tão longínquo quão tranquilo. As manhãs claras de Domingo, longe da escola e dos outros, em que me enroscava a ouvir os sons da casa e da rua num romancear de ilusões. E tudo parecia perfeito. A voz cristalina da mãe que entoava canções de um romantismo tristonho encharcando de sonhos as paredes dos meus olhos, os locutores da rádio com vozes cheirando a quente, os sabores agridoces da cozinha alimentando as papilas de prazer escorrido, o amola-tesouras trazendo a música que me rasgava os lábios...
Mãe, hoje já não cantas assim! E eu tenho tanta pena. Quero aliviar-te o cansaço. Eu vou cantar para ti, embora o trinado em nada se te iguale!

Lisbon story

Frase da tarde:de que vale uma chave sem um beijo?

domingo, abril 29, 2007


Dispo-me do frio das algas dos teus braços, ergo-me entre o calor telúrico e do sangue e dilato-me na serenidade da tua estranha e complexa presença. Varro os cacos do teu caos e recebo as poeiras em higiénica atitude...tua.

sexta-feira, abril 27, 2007


Arranha-me os braços!

E o outro arranhou-a com as unhas cravadas na carne tenra, ciente da dor, incrédulo no pedido e na obediência.

De olhos vivos e doridos por experiências de violência doméstica entre progenitores, a menina excede-se em actos de revolta. Desafiadora e contestatária encapuçada, vítima sempre, mestre de encenação. Chantagia e defende-se com um saber adulto que lhe vem de uma infância moldada pelo engano e pelo desencanto dos que na hora da separação ou no seu encalço não souberam gerir as emoções e exerceram os instintos mais pimários em detrimento da razão e da elevação moral de quem tem filhos que aos dois pertencem. Bens insubstituíveis de valor supostamente intocável que na decadência de uma relação são de ruína frágil, é sabido.

Pasmo, no prazer da dor! Que culpas assumirá que a lavam a tal extremo? Que se passa por detrás daqueles olhos negros?
Fim-de-semana pela frente, mudança de residência e a destabilização sempre em crescente avolumar!

Foi depois de uma estada com o pai que me chegou lavada em lágrimas, recusando-se a entrar na sala de aula para que ninguém gozasse com ela...ninguém goza, mas ela sente-se alvo e no fundo quer a pena. Senti-o. Conversa de mulher para mulher. O tema, o sofrimento, o medo de contar e eu via-me nos seus olhos, era necessário que percebesse que os seus problemas serão sempre meus e que tudo farei para a ajudar. Macabros cenários me assombraram e temi a confissão.

Não foi o que suspeitava. O pai, após uma cena birrenta que terá tido, disse-lhe fora de si ("ele estava a falar a sério, professora!" ):


SE TU CONTINUARES A PORTAR-TE ASSIM, EU MATO-ME!


Hoje correu para ele com os braços marcados pela dor, necessitando de colo e de quem a proteja... para sempre...mesmo dela.

quarta-feira, abril 25, 2007

A melodia viva de Abril!

terça-feira, abril 24, 2007

Jacinta canta Zeca Afonso

Em Santarém cantou-se Zeca Afonso!

domingo, abril 22, 2007



Motivos para sorrir...




- Podem abrir a porta, agora apetece-me entrar, mas a chave fica comigo. Sim, porque se isto correr para o torto eu tenho mais que fazer, além disso esta vida de gabinete empalidece-me muito e sabem como eu gosto de ostentar um bronze de fazer inveja!

sábado, abril 21, 2007

sexta-feira, abril 20, 2007


Amo ninguém
ninguém me ama
vivo solta
nas redes que construo
num silêncio de mar e vento
vou e venho
como um lamento
chamando pela menina
que não vem.
Procuro-a no fundo
das altas paredes
que construí
com ventosas de dor
suporto o esforço
do trilho gasto
corroído pela humidade do tempo
escorrego nas vertentes
gastas pelo desalento
nas fendas profundas
cravo minhas mõas
num desespero
volta menina
levas no cabelo
os anos dourados
que nunca tiveste
que sempre sonhaste
como uma lua prenhe
que incha na noite
e ilumina o caminho dos desamparados.

segunda-feira, abril 16, 2007


Tantos são os dias mundiais que nos perdemos dos menos divulgados e que ao consumismo não trazem benefícios. Sabemos de cor o da Criança, o do Pai, da Mãe, da Mulher, dos Namorados e mais meia-dúzia que vamos registando por excesso de alardo. Não querendo retirar importância à vida emocional, são estes lembretes da essência que deveria ser diária na relação com os outros. Da ascendência, descendência e cara-metade não deveria haver dia, por todos o serem. Mas outros há que passam por nós sem presente comprado na pressa do agrado. Alguns tão importantes que mereceriam honras de primeira página, de abertura de telejornal.

Hoje é Dia Mundial da Voz. Usamo-la a cada instante e não lhe dedicamos a mínima atenção até ao momento que percebemos que alguma disfonia nos ataca. Instrumento de trabalho para muitos. Para mim. Postal de personalidade, amostra do bem estar físico e psíquico do indivíduo. Ansiedade, stress, afectividade, sedução, sensualidade,alegria...e ela muda na intensidade, no timbre, no volume, na melodia. Expressão corporal de alta definição, num misto de cordas, músculos, respiração, postura. Aprender a colocá-la, ouvi-la, regar amiúde as pregas sonoras, fugir de ambientes poluídos e refrigerados, subtrair o tabaco e o álcool, é gostar da voz que temos, preservá-la.

Pelo sim pelo não vou beber um chá de perpétuas roxas e pode ser que acorde com a voz cristalina, pronta para mais um dia de trabalho.

domingo, abril 15, 2007


Que o país tem questões mais importantes para debater não há dúvida, mas da imagem de rigor que se quis passar fica agora a mentira, a dúvida e as respostas atamancadas. O "Gepetto" conseguirá engolir tamanho desaforo?

sábado, abril 14, 2007

LEAOZINHO


Quando for grande!...quis ser polícia, quis ser bombeira, quis mudar o mundo e acreditei demais, quis ser pintora, e pinto com a língua de fora assim como das mãos o talento, quis ser escritora, e escrevinho, quis ser actriz, e fui, quis ser professora, e sou, quis ser veterinária... e adoro animais.
Não é verdade que quanto mais conheço as pessoas mais goste do meu cão. Mas o meu cão é uma das minhas paixões assolapadas que incondicionalmente aceito. Deixo de fazer férias para tratar dele, chorei amarguras quando o vi agonizante, compro-lhe a melhor ração, escovo-o mais vezes por dia do que me penteio a mim, falo com ele como se me entendesse o uivar, espreito-lhe o dormir quando me levanto na calada da noite, aconchego-o nas noites frias, sinto-lhe os suspiros num murmúrio suave de arroubo, embalo-me na ternura que lhe tenho e ele corresponde naquele jeito de gigantão de olhos doces no afável desconhecimento do poder dos seus setenta quilos, que eu abraço e que me derrubariam num abrir e fechar de olhos. Mas ele pestaneja e senta-se como um bebé e aninha-se aos meus pés e guarda-me das tristezas e anima-me os afectos.
Queria muito que tivesse descendência. Duma tentativa frustrada no Verão passado, por cio mal parido, chegou a hora de ter visitas em casa. Tem sido a loucura! Uma Browny toda vivaça invadiu-lhe o espaço. E se a princípio ele tinha ciúmes dos donos e a ela não podíamos dispensar atenções é agora a ela que ninguém pode chegar por ser pertença sua. Não param o dia todo, não há água para tanta sede, que estas coisas do amor precisam de ser regadas para serem bem saboreadas.
Só que há um grave problema!Ele pega-a de cernelha, pela cabeça, por onde deve, a ditosa receptiva faz-lhe o mesmo como a ensiná-lo, mas a diferença de tamanho aqui dita sentença. Uma diferença de cinquenta quilos impede a consumação do acto.Já o ajudei, empurando-o, mas ela cai de focinho. Pois se ela não pode com ele, se o animal tem o dobro do comprimento dela por mais apetrechado que ele seja, a coisa não pega, falta-lhe uns três danoninhos para lhe chegar.
Já sei!, amanhã, este vai ser o seu pequeno-almoço!

quinta-feira, abril 12, 2007


Não há ausentes sem culpa nem presentes sem desculpa. Verifiquei há muito que quando iniciei este blog, lhe dedicava algum do meu tempo, diariamente. Escrevia com alguma disciplina, lia muitos dos meus pares, alguns com uma admiração que ainda hoje professo, num amadorismo viçoso de aprendiz interessado. Hoje verifico que da elasticidade do tempo, que em desatino persigo, fica a constatação que do tanto que há para fazer, porque sim e por prazer, algo tem de ficar para trás. E este humilde recanto de mim fica, por vezes, aqui ao deus dará, sofrendo um mofo de ideias que rejeito. Gosto de ar fresco, de brisas suaves, de odores quentes e vibrantes , de lembranças que me emocionem, de gargalhadas saudáveis, da ternura dos gestos, da mordaz crítica social, do desabafo e do enlaço, o que nem sempre consigo transparecer. Gosto de blogs com ritmo, com vida ...
Aos poucos que passam por este beco que na lezíria do Tejo faz poiso, ficam as culpas assumidas e as desculpas desejadas.

terça-feira, abril 10, 2007


Acabou-se a papa-doce! Toca a levantar cedo! A escola espera por mim.

sexta-feira, abril 06, 2007

quinta-feira, abril 05, 2007


A chave do amor


O ninho de cegonhas, ao alcance da vista, era promessa de fecundidade certa. Adulto, vacinas em dia, exemplar de peculiar formusura inscrita nos genes e acentuada pelos desvelos de que sempre fora alvo durante a sua afortunada existência, ali estava ele, madrugando docemente com especiais cuidados e enlevos para aquela hora da manhã.
Entre espreguiçadelas e beijos, se ia retirando as remelas insistentes, o cerume pastaso que dos ouvidos faz leito, mas com tanto aprumo, que do equilíbrio se despegava com tonturas prazeirosas e esgares de boca e de olhos que assentavam mal a quem a corte se prepara para fazer.
Despegado da alta costura e em nada necessitando dela, pelo ditoso e abençoado corpo, deu-se lustro ao polido fato, bem escovado de poeiras e de algum pêlo desdenhoso de seu dono. Um pouco de exercício para desentorpecer, necessidades matinais feitas com os descuidos repisados a que se habituara, refeição ligeira para dejejum rápido e, estava pronto a receber a menina que os seus olhos haviam de amar.
A meio da manhã, chega a bendita e esperada criatura. Alta, esguia, morena de olhos e de penugens, dócil no trato, sem ar de pêlo na venta, mas demasiado tímida nas relações, para quem apresenta pedigree de tão alto gabarito.
Ele bem tentou e a tentou, com tudo o que a sua curta experiência nestas coisas do amor, lhe permitia fazer. Mas ela nada. Fugidia. Receosa. Dada a namoros com vadios de desmérito... e agora isto!
Perdeu a cabeça! Possante como é, não desperdiçou esforços para dela se aproximar, não obstante ouvir as recomendações de que devia ser paciente e comedido. Mas depressa deixou de escutar quem quer que fosse, já com o engodo erecto e a lábia que Deus lhe deu. Arreganharam-se os dentes, coisa feia de se ver em seres de origem e porte finos, e lá se acalmaram os ânimos, levando cada um para seu lado entre consolações e promessas de dias melhores. Mais receptivos. Este era o primeiro encontro e nada havia a temer!
Nesta coisa do amor, os géneros ditam diferenças, como se sabe. Se eles são dados a intimidades sem precisão de prelúdios, elas requerem envolvência, romantismo, cumplicidades consolidadas e com provas de afecto, que justifiquem o acto.
A chave do amor não se encontra facilmente! Não se abre o coração de uma donzela, por canina que seja, com um " Ó pra mim que sou lindo! Olha o que estás a perder!".
Pois bem!Em mim, das cegonhas fica o mito. Ainda não foi desta que o meu cão conseguiu acasalar, mas guardado está o bocado para quem o há-de comer!



(escrito em Agosto de 2006)