reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quarta-feira, março 26, 2008


A minha avó me diria
que anda o diabo à solta
ao ouvir a ventania.
Mas no coro do momento
os ramos dançam com as musas
em ritmos de alegria.
Sopra e rufa nos cantos
descobrindo desencantos,
segredos de quem diria.
Uivam os lobos à esquina
olhando as pernas da menina
que se descobrem com o vento.
Soçobra a agitação
no mundo da ventania
e liberta a aflição
quando a pele da menina
fica como a da galinha
sem pano de cobrimento.
Oh, que lá se vai a carta
que escrevi ao meu amor!
O vento leva-a pela certa
à morada que deserta
a fecha no esquecimento.
Senhor vento, olhe o chapéu
que mesmo agora comprei
na loja da fantasia
roubou-mo ao dar-me um beijo
com essa aragem lisa e fria.
O beijo dava-lho eu...
mas o chapéu, senhor vento
comprado ainda agora
rodopia desalento
sem uma cabeça por dentro.
Senhor vento, vá-se embora
deixe a Primavera entrar
fresca e morna, morna e fria
na suprema alegria
de renascer do tormento.





5 comentários:

Anónimo disse...

querida sinedoque, que encanto está o seu blogue ;) esta fotografia do cabeçalho é uma beleza ;) e gostei muito de ler o poema da avó. um grande beijinho e obrigada pela sua visita. oxalá tenha feito umas férias excelentes!

CPrice disse...

mudámos a casa, um novo quadro aqui, uma parede de cor diferente ali .. e sinto-me aqui tão bem como me sentia antes :)

a escrita? essa continua .. inigualável
Beijinho e votos de bom fim-de-semana *

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

este cantinho está muito agradavel, a poesia está excelente..

Alba disse...

Belíssimo poema! Tanta ternura luminosa!

Nilson Barcelli disse...

O Senhor vento é malandreco... então não é que ele tem a ousadia de descobrir as pernas da menina... e serão lobos, apenas, que à esquina olham para elas...?

Gostei do género descontraído do teu poema.
Escreves bem em qualquer estilo, mesmo a ficar sem chapéu...

Beijinhos.