reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

terça-feira, dezembro 04, 2007

Deixaste a almofada em casa...

Saías da cama com frio de aconchego, trazias a almofada preenchida de pura lã que desfiavas num rosário de dedos e um "côló" que se arrastava pelo chão como uma sombra de luz. Vinhas no calor da ternura perceber a cama grande onde cabíamos todos. Acordávamos perto do sonho expresso na tua cara de menina serena.
Hoje encontraste-me sozinha no colchão quente- frio da tua ida. Debaixo do braço, a almofada única de algodão e lã que se preservou ao longo da tua vida, menina-mulher. Enlaçámo-nos como nas noites de pesadelos, desta vez tendo presente o sonho do teu futuro.
À porta, as malas da vida mudada para longe, no peito, as portas de esperança que escancarás sobre o Douro numa paisagem que adoras, no coração da mãe, a alegria e o orgulho da rapidez com que conseguiste o teu primeiro cargo sério no mundo do trabalho. Fintaste o desemprego, depois de um estágio de Verão, mesmo antes de liberta da vida académica. Fecham-se em abraços de força e de ternura os corpos que ficam na lezíria que te viu crescer e abrem-se as vontades para um novo voo de independência e sucesso.
Emoção contraditória de perda e de plenitude! Regozijo e melancolia das metamorfoses que soubeste criar na seda da tua existência. Soltei-te há muito no mundo largo, mas parece que foi ontem que te tive pela primeira vez nos braços. Que sejas feliz na tua escolha de engenharia de vida!

2 comentários:

CPrice disse...

.. quando um dia que sei não está tão longíquo quanto .. tiver de fazer o mesmo .. é assim tal e qual com palavras de pedra e mel que o quero escrever .. que o quero transmitir ao meu pedaço de vida que vida própria tem e terá .. :)

É bom tê-la de volta .. *
Beijinho

CPrice disse...

(faltou ali um "n") ;)