
No fundo da minha gaveta estou sobradinha de brumas. Recorresse eu a ela e o horizonte toldar-se-ia numa neblina densa de inverno, quase a metamorfizar-se em forte aguaceiro com direito a granizo ralado de um padecer que faria clamar as pedras da calçada. Pois nem sempre os dias são brandos e felizes, vezes há, em que se entorna o contentamento, descalço o humor logo pela manhã e febrilmente esvazio as angústias, que não fúrias, na pia dos dias. Do sorriso largo, estagna a vontade e regateiam-se serenidades a troco de introspecções e queda dos ombros com pendor esquerdista.
Da tendência depressiva depressa se retira proveito criativo que na escrita se aninha. Do mal do menos! Livros em Branco repletos de quedas livres em abismo solitário que na gaveta ganham alma de fantasmas de mim. Retiro-lhes a escuridão amiúde, salvo-os do buraco negro onde se encontram e o choque com a luz é sempre traumático para os meus olhos que mergulham em palavras que juraria nunca ter escrito, tal o jorro que sai da ponta dos dedos, alagando a folha, sem tempo para estabelecer canais da mente que regulem as enxurradas do peito. Do fundo da gaveta saem às vezes com direito a liberdade sem condicionalismos, são escritos do tempo, memórias com rosto, cinzel que nos afectos mostrou esculturas gravadas na pele. Se as virem por aí, falem-lhes do sol e dos voos lindos dos pássaros, riscando o céu azul, ao fim da tarde.
7 comentários:
Claro que sim!...
Recordais-vos brumas do Sol, dos voos lindos dos pássaros, do cheiro a terra molhada, do sabor de uma maçã verde, do aroma da flores campestres, do retinto das amoras, das águas fluviais, de pique-niques de sorrisos e gargalhadas, de subir às cerejeiras, e... do arco-íris que pinta o céu nascendo entre o sol e as brumas...?
Recordais-vos?...
Um beijo
(do Herói)
rsrs...não há bruma que resista a tanto!
Obrigada pela frescura desta janela aberta!
Um beijinho meu herói
Pois é, minha cara!... Quem escreve o que lhe vai na alma, não merece castigo.
E as papanças?!E as amoras?! E os serões?! E...E...E?...
Beijo da Lelé
Lelé, minha querida amiga, meu refúgio, minha códoma de mil gavetas... tanta papança, tanta amora, tanto que navegámos em barcos feitos de folhas, nas águas revoltas das chuvadas que banharam a nossa infância!...e esta capacidade de rirmos a bandeiras despregadas das nossas "desgraças", invertendo-as,pervertendo o sistema, inconformistas e saudavelmente loucas.
Beijo da prima Batina
lb...às vezes penso que é nos silêncios que dizemos tudo, as palavras são mera pontuação.
Plim...silêncio_______________________________________________________
Um beijo
folhas cheias .. mas imaculadas .. como essa escrita que continuar a encantar minha amiga .. :)
e no silêncio de um sorriso asseguro: falarei
Beijinho
Once...e eu sempre desejosa de sentir essas palavras repletas de alegria de viver e de afecto.
Um beijinho
Enviar um comentário