reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

sábado, agosto 25, 2007



Crescemos juntos. Tínhamos em comum terra plana e segura onde nos movimentávamos aos bandos, tal era a algaraviada que se soltava do prazer da companhia. De bicicleta, mais tarde com automóveis-arrastadeiras que se compravam a meias percorria-se a distância que as mesadas curtas e as permissões familiares consentiam. Inventavam-se festas por tudo e por nada, nas férias, principalmente os rapazes voavam até Peniche ou à Nazaré e aí permaneciam meses em acampamentos ciganos que instalavam nos parques de campismo espalhando sedução e alegria de viver. Durante o Inverno, fazíamos do teatro um ponto de encontro de nós e de nós com a vida e na criatividade cresciam as asas do saber quem somos, procurando sentidos, determinando escolhas.
Soltos na vida, temos na distância a certeza do reencontro. Podemos estar meses sem nos encontrarmos será como se na véspera tivéssemos estado todos juntos e, na sede da conversa, ateamos os rostos de beijos e risos e palavras que se soltam sem medo do toque que na idade não encontrou portas fechadas.
Ontem estivemos juntos, comendo queijos de cabra e alheiras e coelho e grelos salteados e tigeladas e vinhos tintos que um leva e que os outros apreciam e sabem que o melhor vem dali. A cada um o seu pelouro que na complementaridade está o espólio de amigos servido. A irreverência nos olhares mesmo quando a desilusão ocorre. Nas confidências íntimas volvem-se os anos e numa santa irmandade dão-se conselhos, ralhados às vezes, sem lesões nem ofensas que não se rebatam na hora. Donos uns dos outros, de braços estendidos, dinâmica atenta num grupo pronto-socorro que não quer joelhos esfolados.

1 comentário:

Unknown disse...

Maravilhoso e delicioso!
A Amizade que, como o porto, se apura, se degusta e aprecia cada vez mais. O clã das nossas vidas como uma banda sonora que dá ainda mais sentido a cada momento vivido e partilhado...
Adorei!

Um beijo