
CROL
O anúncio do meu nome dizia-me que chegara a hora. O auto-controlo e a dignidade adquirida, ao longo da vida, impediam-me de consumar a retirada em grande estilo. Avanço de cabeça erguida. Uma ajudante do retalhista pergunta-me o que venho fazer. Da garganta a frase não saiu"Venho inspeccionar o bloco operatório e volto noutro dia". O seu sorriso simpático retirou-me a perplexidade da pergunta. Melhor seria dizer. Histórias há, de quem vai ser operado a um pé e sai com um braço ao peito. Nada de confusões.
Equipamento a rigor, da cabeça aos pés, num tom suave de verde esperança, garantia fraca intromissão de germes deletérios. Enquanto espero o sinal verde, de alarme para mim, vou-me entretendo a descodificar a sigla carimbada na bata que me forrava : IPOFG CROL. A primeira parte do enigma era evidente. Sabia onde estava...mas CROL? Será que aquilo ia meter água, ou iria eu, finalmente, aprender a nadar?
Classificação estrelina para todos os que me rodearam. Bom humor, conversa interessante, garantia de ausência de prazer pelo trabalho, mas de muito preceito na hora de o executar. Ufa! Com espadachim de serviço era permitido duelo no final se a coisa não fosse perfeita e indolor. A anestesia a entrar e eu a limpar armas!
Cinco pontos bem guarnecidos e a certeza de que a terra que me viu nascer é ponto de referência para quem da arte retira prazer e alonga o olhar. Amigos para sempre e promessas de futuras visitas noutras condições de menor imobilidade horizontal para mim( sem malícia!).
Jurei que não, que não diria a ninguém que se divertiam a trabalhar, não fosse algum mentecapto invejoso desfazer equipa de primor.
Não resisti. CROL? Sistema de trabalho, na área da saúde, onde o corpo clínico é composto por um conjunto de profissionais médicos de formação científica rigorosa, assegurando-se assim a riqueza do diagnóstico.
Saí confiante.
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