reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Ainda de férias...


A azáfama diária da casa mostra-me que mesmo de férias da escola nunca conseguirei ficar arredia ao trabalho. Impõe-se-me. Chega de todos os cantos e chama por mim com uma insistência dependente, clamorosa, à qual não consigo virar as costas.
Tentar disciplinar outro pessoal doméstico foi tarefa inglória em mim. Hoje, todos adultos, dóceis no trato e amantes de me verem feliz, são colaboradores mais assíduos e percebem que preciso de tempo. Tempo de olhar de mansinho para o horizonte plano por onde gosto de estender o olhar, tempo de ouvir os chilreios da abundante passarada aninhada nas árvores altas que me ladeiam a casa, tempo para escrever pintando emoções e invasões do espírito.
E o cão. Conversa com ele em linguagem de afectos nunca é dispensada. Sentada no degrau último da escada, com ele por companhia, dividindo o curto espaço. Sessenta quilogramas de um lado, setenta do outro. É um bicho de peso, com olhos de mel nos quais ouso olhar. Dizem que não...que nunca se deve olhar um cão nos olhos por ser sinal de disputa, mas nós já percebemos que não há contenda nem desafio nos olhares que cruzamos. E por cada sorriso lambidela certa, por cada tufinho de pêlo tirado, o corpo se ajeita a procurar o meu colo. Que nem cão nem gato das redondezas tenha o arrojo de creditar sua existência, nestes momentos, que ele como como toiro saído do curro sai em defesa do espaço e do aconchego quebrado.
Que bom! Aqui estou...ainda de férias!

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