reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

terça-feira, novembro 25, 2008


a página branca. imaculada. os olhos não podem ver o que escrevi no pensamento se das mãos não sair pegada. impressos a cinza amasso os risos e os choros. vazo-os no caldo quente das memórias revoltas e remexo tudo com carinho. um dia hão-de ser palavras escritas. agora são só folhas brancas por fora e prenhes de sons sem denominação audível. tanto por dizer. tanto por saber. tanto por pensar. tanto por fazer. estarei no tempo de construir e destruir reconstruindo por dentro. sempre. depois soltarei o pensamento como o vento no fim de uma tarde fria de outono. será agreste e cortante. um arrepio de alma sem sonhos de verão. será o perfume da terra molhada no pousio de restolho cortado. será o aroma dos frutos maduros. das flores com raízes suculentas e profundas. poderá ser tudo isso ou nada. por agora recolho as imagens. podo as palavras. planto a árvore. dela farei sombra e encosto para continuar aparentemente quieta e calada. se nada escrever nunca mais assinarei num coração o meu nome. esse está vivo e sente.

segunda-feira, novembro 24, 2008

nada que escreva me agrada. queria ser poeta e não sou. verbalizar os dias cheios de abril. sacudir ao vento as emoções. carregadas nas nódoas do olhar. nos arco-íris que visito sem folgas. diariamente. mostrar o meu tesouro escondido a sete chaves. ter um museu com visitas gratuitas só de palavras escritas nas paredes. e desenhos. muitos desenhos. desenhos com olhos que falassem. e almofadas. muitas almofadas espalhadas no chão, onde se sentassem a beber canecas de chá com aromas tão definidos que não fosse preciso perguntar a essência. onde se contassem histórias à lareira que crepitassem faúlhas do sono humano. onde houvesse aquela poção mágica que dá clareza às mentes e saúde aos corpos. queria um museu assim. uma casa aberta para todas as idades. com asas nas janelas e botas de sete léguas nas portas. hoje aqui, amanhã mais adiante. naquela curva do tempo. a sorrir do ido e a respirar futuro. queria ter esta casa. onde todos os que entrassem fossem felizes para sempre como nas histórias de infância. não por alienação ou ingenuidade. mas por aprenderem a sublimar a vida. a vivê-la como magia. a acreditar que o impossível acontece. de bom e mau. mas haverá sempre alguém em quem vale a pena acreditar.