reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quarta-feira, outubro 01, 2008




assim sem vontade de escrever procuro as letras arrumadas em palavras e semeio-as ao vento fresco do sol posto. deixo ao critério manso deste outono crisálido o desfolhar das mensagens como se a vida andasse arredada da luz do dia. ouço os sons do sino da igreja anunciando horas que não simbolizam nada. não sei se o cão ladra ao som da crise instalada se afina a voz para uivar quando sairmos dela. a televisão opera os vegetais que somos numa inutilidade curativa. o silêncio da casa leva-me ao futuro repetitivo e ensurdecedor do barulho das paredes. o chip da transmutação instalou-se na soleira da alma e os números soltam-se-me no cérebro à procura da ordem crescente das prioridades sem lembrança de mim. seco a medula do trabalho horas a fio e fico encharcada dele pela noite fora como se mais nada fosse importante. adormeço e acordo só para vê-lo crescer e às vezes suspiro pela mama doce da preguiça.


ah, mas mesmo assim, os risos das crianças continuam a ser as páginas mais lindas do meu diário.

4 comentários:

CPrice disse...

"a ordem crescente das prioridades" .. :) sabê-las, avaliá-las, arrumá-las por vezes na prateleira .. sem nunca esquecer os risos das crianças *

Beijinho minha Amiga :)

Elipse disse...

li-te nessa confessada falta de vontade para escrever e...
... não creio que alguma vez te faltem as palavras, depois de arrumadas as letras com que tão bem lidas.

JP disse...

Pode parecer desajustado, em determinadas profissões, escrever com regras aleatórias, ou com a ausência delas. De qualquer modo, ainda que o nobel tenha escapado desta vez a Portugal, acho que o criativo tem muito para dar de si, sem sermos todos Saramagos e anarcas.
Saudações

CNS disse...

Que nunca deixes de escrever... Mesmo que ainda de vez em quanto te assalte a falta de vontade.

um beijo