pega nas cartas uma a uma. aposta no modo de as baralhar. com dedos de viciado entendedimento fá-las rodar em cima da mesa. o som da roleta de papel. vezes sem conta. a sorte e o azar na ponta dos dedos. os dedos no cabo do mundo em arribas de abismo e asa delta. fuma. como se ao expirar o fumo exorcizasse o medo de falhar. concentração no sentido sexto. um último enlace no escuro e elas perdidas entre naipes numa imprevista orgia. começa o jogo. habilita os dedos em exercícios de alongamento. relaxa. suspende a respiração e arrisca. lança as bases. alicerça as paredes daquele sonho. constrói em altura a cadeia aleatória com fé no triunfo. a língua entre os dentes. a serra dentária a prometer guilhotina no erro. o gesto preciso. a fuga das palavras. a adrenalina da subida. degrau a degrau. lentamente. a concretização a um passo. um toque. em falso. dois. transpira. liga-se ao eixo. nas tentativas inglórias arrisca a última cartada. sente falta de ar. um aperto no peito. inspira e expira na esquina errada do jogo. cai de uma ameia e na queda sucumbe com o baralho de cartas.
4 comentários:
:) a fragilidade dos castelos que rapidamente se desmoronam... como em tantas coisas da vida. beijinho grande, sinedoque.
Mas que desgraça... nem sequer a dama de ouros e o valete de paus se salvaram...?
Jogar, implica sempre a avaliação dos riscos face aos perigos identificados.
Só um tolo joga com riscos elevados, a menos que não tenha identificado correctamente os perigos, o que acontece frequentemente.
No jogo do amor tudo é diferente. Não há avaliação possível... daí as quedas, muitas vezes inevitáveis. Mas enquanto o jogo dura, há vida para além das cartas...
Belíssimo texto, muito ao teu estilo inconfundível.
Beijinhos.
De um só folego. O Jogo. A vida.
um beijinho
Sopro-te e voo
escrevi isto um dia
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