Ciclo de vida
como um regato de pedras roladas pelos séculos de águas erosivas, vou na corrente fraca. persistente procuro o leito escorreito de artérias livres onde aumento a velocidade do sangue. lavo os musgos lamacentos das arestas por limar e irrigo o peito da terra árida numa dádiva de rega num gota-a-gota de promessas evolutivas. De quando em vez refresco-me em poças profundas de oxigénio. brinco, salpico, mergulho e perduro os segundos que fazem estremecer a eternidade . na hora da emergência, no turbilhão da corrente inesperada, olho o achado perdido e agarro-me às margens com sentido de toca. delibero percorrer todo o ciclo de água para ali voltar. segura de garras e armada de redes férteis de emalhamento sugado no mar do alento. cristalizar o tempo para poder nadar num ninho de carícias ternas de algas e pernoitar nos rochedos sem portas. labirinto sólido na construção dum formigueiro nutrido de vida exalando contornos maduros de escolha.
4 comentários:
sensação de repouso .. (tudo o que preciso) ;) num texto envolto em sentimentos e imagens *
Beijinho
Deves ter ficado toda molhada depois de percorrer com tanta velocidade o ciclo da água. Só não passaste pelas nuvens...
Mais a sério, direi que este texto é soberbo. Mais poesia que prosa, está inundado de excelentes metáforas e imagens, que são um verdadeir "ninho de carícias" para os sentidos.
Bfs, beijinhos.
Curioso título... Estranho ciclo este... o meu...
(...) "na hora da emergência, no turbilhão da corrente inesperada, olho o achado perdido e agarro-me às margens com sentido de toca" (...)
Falham-me intermitentes as palavras... mas estas tuas preenchem-me as lacunas do sentido às avessas.
Atenta, suave e querida, como sempre.
Um beijo do Herói-careca e da mãe esfarrapada.
amanhecer aqui. eis o que me aconteceu. foi um prazer regressar a este lugar. um grande abraço.
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