reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quinta-feira, outubro 11, 2007



tenho o cinzeiro cheio de trabalho ardido no corpo. tenho os ouvidos macerados de pós sonoros sem fonema que se identifique. tenho a saliva ácida da chuva gráfica das ideias. tenho o mercúrio na temperatura da febre solto no sangue. tenho as articulações laças da ferrugem cromada em metal cinzelado. tenho o peso do sono no canto da boca que se esconde na orelha. tenho a loucura certa para enfrentar a fera. tenho fera cá dentro para enfrentar a loucura. tenho anos que não sinto. sinto os anos que não tenho mas já tive. tenho saudades do futuro e de saber do passado que há-de ser o amanhã. tenho vida e morte e crime e castigo. tenho um carneiro selvagem para procurar no Japão. tenho kafka à cabeceira do amor. tenho medo do que conheço e desconheço o medo do que quero conhecer. tenho esperança na ternura e dela faço o meu dia vadio. sou inteiramente masculina numa feminilidade marcada. sou o sim , o não, o talvez com os pés no chão e a cabeça a metro e sessenta. quando baixa o nevoeiro sou bruma densa sem d. sebastião. quando o sol brilha sou campo de girassóis cercado por planície.


Sou tudo isto mais eu.

3 comentários:

CPrice disse...

sem palavras ..
:)

Nilson Barcelli disse...

Tu sabes o que eu penso da tua escrita. Soberba. Brilhante. Do melhor que há na net e arredores.
Aparentando ser prosa, tem mais poesia que um poema digno desse nome.
Resumindo, escreves bem comó carago...
Beijinhos.

PS: és tudo isso e mais tu? E eu a pensar que te conhecia...

Unknown disse...

Humana.

Um maravilhoso Ser Humano.



Dois beijos infinitos
(do Herói também pelo Kafka)