Interiores da noite...( má língua)
Não se faz anos todos os dias! Há que comemorar! Estamos todos de acordo. Na recepção a diferença: entrada no bar com pulseira hoteleira em regime de pensão completa ou triagem hospitalar. O aniversariante à porta vestido num rigor bacoco fez-me lembrar o pai no dia do casamento. Casaco branco com linho por nobre escolha fere a vista ao primeiro embate, sapatilha prateada chiando a novo, t-shirt negra onde as letras de prata esboçam uma frase que não dá para ler, devido ao abotoamento certeiro do casaco que apetece desabotoar e mandar ao ar, talvez desse jeito à lua que, na noite inesperadamente fria, vive num quarto crescente de arrepios.
Circula na festa com o ar de anfitrião zeloso para que nada falte, dando ordens com a exigência de quem paga. Afirma-o, alto e bom som, altivo, para que não fique a dúvida de quem manda ali. Charuto cubano na boca que nunca fumou, valha-nos isso! Pasmo! Espero um sorriso que me mostre o dente de ouro, olho a mão na busca da unha adulta e cachucho digno, imagino pulseira e fio de ouro, arreganho o dente para adivinhar o quilate. Abano a cabeça e desfaço a imagem, afinal vi-o crescer!
Da alegria dos 27 anos, não vi o brilho nem sombra. Melhor, só sombra. Sobra-lhe em carros e motos o que lhe falta em acerto. Mal cumpridos e desarrumados aos anos vai somando a arrogância do dinheiro do pai. Mas a este e à zelosa mãe responde com rei na barriga criada a batata frita e a bifinhos ainda hoje limpos de gorduras pelas mãos da progenitora. Um pequeno ditador, na casa sede, que nada faz digno de registo, nem mesmo fingir que estuda. Mas o desejo da noite era mesmo ter casa própria. Paga pelo pai, claro! Lá chegará.
3 comentários:
Não pude estar presente, mas a menina elucidou-me q.b.Estou a ver tudo como se fosse um filme!
Parabéns por mais esta pérola!
Estou estupefacta...
Eles existem e proliferam.
Diz o meu Herói que os cogumelos também são assim... de geração espontânea e verdadeiros parasitas oportunistas, vivem à custa dos pinheiros...
Um Beijo (Herói e Ana)
Este texto está deliciosamente cinematográfico!
Adorei a descrição
Parabens:)
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