Portal de mim. Aldraba do tempo. Deixei-me entrar num turbilhão doce de imagens que me trouxeram recordações dum passado tão longínquo quão tranquilo. As manhãs claras de Domingo, longe da escola e dos outros, em que me enroscava a ouvir os sons da casa e da rua num romancear de ilusões. E tudo parecia perfeito. A voz cristalina da mãe que entoava canções de um romantismo tristonho encharcando de sonhos as paredes dos meus olhos, os locutores da rádio com vozes cheirando a quente, os sabores agridoces da cozinha alimentando as papilas de prazer escorrido, o amola-tesouras trazendo a música que me rasgava os lábios...
Mãe, hoje já não cantas assim! E eu tenho tanta pena. Quero aliviar-te o cansaço. Eu vou cantar para ti, embora o trinado em nada se te iguale!
8 comentários:
e que mãe não merece que lhe cantemos. o sol sem brumas ;) um beijinho, sinedoque.
a magia das palavras levam-nos .. e trazem-nos .. como as marés :)
Gostei*
Que lindo!
Olá!
passei por cá!!
Canta, canta para a tua mãe, com o coração e tudo sairá bem!!!
:)
Excelente texto.
Aqui e ali muito poético.
Gostei do conteúdo e da forma.
Beijos.
Simplesmente maravilhoso.Beijos adorei este teu cantinho.
Lembro-me do 'meu tempo' em que timidamente ensaiva os 'trinados' que hoje sei que te enchiam a alma de conforto.
Felizmente parece que te passei pelo menos o 'trinado' da escrita, pois constrois as palavras com o cuidado e subtileza que o artesão manufactura a sua arte
Continua, 'cantarolando' estes textos que aquecem a alma de conforto de quem te lê.
Bem Hajas
O seu texto levou-me a Ruy Belo, o poeta a que regresso sempre:
(...)
"Só sei que tinha o poder duma criança / entre as coisas e mim havia vizinhança / e tudo era possível era só querer"
(in HOMEM DE PALAVRA(S))
Belo texto, o seu.
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