reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

sábado, outubro 14, 2006


Leve acordar

A beleza outonal com que o dia amanheceu pede saída de casa, em busca de carícias paisagísticas para a vista e para a alma. Acordo cedo sem o motim dos trins que durante a semana brigam comigo e levam a melhor apesar de me entartarugar na carpaça quentinha que me cobre o corpo. Sei de cor a dureza que exercem em mim esses despertares indesejados. Mas, chegado o fim-de-semana, espreito o dia quando o corpo rejeita a cama, inacreditavelmente cedo, para poder sorrrir a seguir e, pensar entre espreguiçadelas e aconchegos, que o tempo pode esperar um pouco por mim. Perco parte do dia, mas ganho em disposição e sossego de espírito.

A rotina matinal altera-se e, fora dos prazos para fazer as tarefas, reencontro prazeres renovados que me alimentam a paz. Primeiro, a volta à casa para perscrutar quem sempre se me adianta na alvorada. Ronronares de mimos fazem-se sentir em linguagens que só o afecto conhece. Comunicação e idioma universais que dispensam legendas e esclarecimentos ficando das figuras tristes o estilo. Logo de seguida, o cão espera uma dose do mesmo. Merecida para quem velou, toda a noite, pela segurança do lar, afastando indesejadas visitas só com a sua voz de trovão, avisando corpanzil majestoso. Dá para o gasto, fica a mais-valia da ternura.

Subo a escada-caracol que me encaminha ao sotão [abrigo meu] e abro a porta-janela que me desvenda a lezíria a meus pés. Os tons acobreados vestem-na de luz e beleza e a frescura da manhã tonifica-me os sentidos. Sente-se uma cedência terna do Verão em concílios assertivos com o Outono que se instala mansamente.

Vou sair e olhar mais de perto as mesclas escarlate das castas tintas. Da paleta outonal a cor que mais me seduz e fascina.

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