reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

domingo, setembro 24, 2006

Meditação do b-a-bá


Procurando equilíbrios, iniciam mais um ano de actividade lectiva. Há mais de trinta anos que andam na corda-bamba entre reformas, experimentações de sistemas importados e quantas vezes já falidos, correntes pedagógicas, vontades imperativas de governantes que vão circulando e trespassando a educação, a preços de saldo e, traspassando quem nela permanece de pedra e cal em busca de significado no meio de tamanha desorientação. Do passado vão fazendo tábua rasa. Sobrepõem-se experiências-piloto, em nichos de recursos que nada têm a ver com a realidade social e tecido escolar do resto do país, mas das quais também, não vêm ecos explícitos e afirmativos de que assim deva ser.
Das Escolas Superiores de Educação continuam a sair fornadas de professores que nada de novo trazem ao ensino. Se os que ao ministério, esforçados, se dedicam , acumulando experiência, não virando costas à formação contínua, apostando na sua auto-formação, não olhando a meios nem a esforços de qualquer ordem para a levar a cabo, não prestam e estão viciados, então aposte-se numa boa formação de professores. E o que se vê é nada. Pedagogicamente mal formados ou informados, desorientados e perplexos com a dispersão de directrizes, confusos e impotentes perante uma escola que reflete a sociedade em que vivemos, estruturalmente deficitária e socialmente destruturada. Pescadinha de rabinho na boca da qual não se vislumbra saída.
Os resultados do (in)sucesso estão aí e não deixam margem para dúvidas , algo vai mal no império, importa encontrar culpados e desculpabilizar quem manda.
Então, surgem os professores como os causadores de todos os males nacionais. A educação é matriz de bom desempenho de qualquer actividade e a crise económica, na volta, é responsabilidade dos professores.
Que se reformule a profissão, salvarguardando quem dela faz bom uso, em proveito dos alunos e do país, não está posto em causa, agora que sejamos bode-expiatório nacional com direito a estocada constante na cabeça, tenham santa paciência!
Entretando vamos meditando, com o lado lunar do dia, por companhia, porque enquanto o sol reina, da escola poucos arredam pé, perdidos que estão no reino da burocracia. Se tanto papel se traduzisse em sucesso estávamos no topo da lista a nível europeu, quiçá mundial.

3 comentários:

Anónimo disse...

Estou mesmo em crer que o ministério da educação deve ter algum protocolo com as fábricas de papel.
Os professores estão cada vez mais equiparados aos malabaristas e aos equilibristas; procuram sempre fazer algo de espectacular para cativar os meninos( é difícil com tantos Morangos a disputar) e depois andam na corda bamba por todo o resto. Sem rede...Vai daí, de vez em quando é cada trambolhão...

regato disse...

Não queira ser um "bode-expiatório" !

Imagine-se um daqueles navegadores(as) portugueses dos séculos XV/XVI, perdidos(as) na imensidão do oceano, enovelados em borrascas, mas utilizando sempre os seus rudimentares instrumentos de orientação para encontrarem o rumo que pensavam mais correcto à prossecução dos objectivos traçados.

É sempre possível utilizar os instrumentos (educacionais) que tem disponíveis, por mais "rudimentares" que sejam, para guiar o "barco" no meio dos escolhos ( isto é, "reformas, experimentações de sistemas importados e quantas vezes já falidos, correntes pedagógicas, vontades imperativas de governantes que vão circulando e trespassando a educação, a preços de saldo")e de acordo com o rumo que considera mais adequado.

O "barco" pode baloiçar, recuar umas vezes e avançar outras, demorar mais do que o previsível, mas o que é verdadeiramente importante é o rumo que traçou e o "bom porto" que pretende alcançar !

Não desespere nem deixe que lhe imponham o "rumo"!

Afinal, os tais portugueses descobriram o difícil caminho marítimo para a Índia e não tinham computadores!

sinédoque disse...

É sempre possível! Com o difícil trava-se combate diário. Com rudimentos aprende-se ciência. Com ventos contrários aprendemos a velejar, embora, por vezes,nos sintamos cansados, há sempre alguém para nos dar força. Obrigada!