reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

segunda-feira, setembro 04, 2006


Jangada de pedra


Num pequeno país à beira-mar plantado soltou-se, um dia, uma “jangada de pedra” que entrou mar dentro.
Perdida no imenso oceano, a pequena rocha, sofrendo os efeitos da erosão das vagas, foi-se fragmentando até se formarem nas suas reentrâncias pequenas praias de areia fina e branca.
No seu interior, edificaram-se colinas de enorme beleza. Vales e encostas foram-se delineando e, bem no centro, uma pequena mas densa floresta agigantava-se.
Nos dias mais ensolarados avistava-se como um regalo para os olhos de alguns navegantes que por ela passavam.
Certo dia, um marinheiro passou por ali e encantou-se por aquela pequena ilha. Passou a chamar-lhe “a sua ilha”.
Algumas vezes ancorou naquelas praias e pôde desfrutar das suas belezas naturais, atreveu-se mesmo a entrar na densa floresta e penetrar nos mais recônditos jardins escondidos, onde a água corria mansamente, onde havia cascatas de prazer e onde a vida parava.
Mas atracar ali não era fácil! O porto seguro ficava noutras paragens e o marinheiro pensando na sua ilha, ia adiando o regresso desejado. A pequena ilha, saudosa do seu amado, estendia as suas arribas mar dentro para chegar mais além. Mas em vão!
Os dias passaram, os anos passaram, e na ilha foram-se formando tempestades, tufões, tremores de terra que foram desfigurando o seu aspecto inicial.
O calor da saudade despertou no seu interior uma enorme explosão e, no coração da ilha, surgiu um vulcão.
Aproveitando a tumultuosa ocorrência, a ilha arquitectou, com o magma fundido, uns braços feitos de rocha para que o seu doce apaixonado pudesse ancorar no seu regaço de forma segura e tranquila.

Não se sabe se terá conseguido o seu objectivo ou se ainda se encontra no meio do mar de braços abertos à espera que o amor aconteça.

4 comentários:

Anónimo disse...

E quantos braços abertos esperarão pelo grande amor da sua vida, quantos braços já cansados acabaram por quebrar, quantos braços descansam enganados como se já tivessem conseguido?
Será que a vida só faz sentido se esta busca se mantiver, seja do amor ou de mais ainda?
Ainda bem que você continua a sua busca alimentada por essa vontade de escrever.

Anónimo disse...

Há "ilhas" que nunca conseguirão esticar os seus braços para alcançar os outros. Pior para elas...

sinédoque disse...

Somos assim inquietos e insatisfeitos. A procura de algo é nunca nos darmos por vencidos e nunca "descansar os braços enganados".É deixarmos de ser ilhas transformando-nos num continente de braços e de abraços.

Anónimo disse...

Sempre julguei ser um bom escritor, até os meus pares me laurearam, mas eis que surgindo do nada emerge este blog onde surge um texto que a principio pensei ser um plágio da minha escrita. Mentira, afinal o plagiador sou eu. Que sublime a maneira de descrever a ilha dos meus sonhos, nem a minha melhor escrita, segundo alguns até dizem bem chata de ler, consegue mostrar como pode ser bela a imaginação. Quase que dá vontade de ser marinheiro e deixar de pertencer à máxima que em cada porto uma namorada, e dedicar-se em exclusivo à exploração dessa ilha prometida