reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

domingo, fevereiro 10, 2008


Eis-me


Tendo-me despido de todos os meus mantos

Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses

Para ficar sozinha ante o silêncio

Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente

Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca

O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras

E o teu encontro

São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite

Escura e transparente

Mas o teu rosto está para além do tempo opaco

E eu não habito os jardins do teu silêncio

Porque tu és de todos os ausentes o ausente




Sophia de Mello Breyner Andresen

3 comentários:

Anónimo disse...

a eterna sophia :) um beijo

CPrice disse...

ausências .. lacunas .. espaços em branco, temos todos tantos não temos?

:)
Beijinho

Nilson Barcelli disse...

Gosto da poesia da Sophia.
Este poema não foge à regra, é belíssimo e inteligente.
A tua escolha, por isso, é de muito bom gosto.

Bfs, beijinhos.