Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
Sophia de Mello Breyner Andresen
3 comentários:
a eterna sophia :) um beijo
ausências .. lacunas .. espaços em branco, temos todos tantos não temos?
:)
Beijinho
Gosto da poesia da Sophia.
Este poema não foge à regra, é belíssimo e inteligente.
A tua escolha, por isso, é de muito bom gosto.
Bfs, beijinhos.
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