bordei com luz o horizonte. tirei da gaveta o azul alvo de mar. o cinzento da neblina do sítio ficou subitamente nos olhos da criança lá atrás. janeiro de sementes adormecidas ressurgiu nas altas vagas da memória. a pedra absorveu a boémia da tristeza e atirei-a para longe onde repousará no leito do tempo sem fundo. esperei o pôr-do-sol, mas era domingo, e o sol ao entardecer resolveu meter-se em casa pela porta dos fundos. pintou de rubro pálido um traço na trave da porta de entrada para assinalar o futuro feito hoje. os olhos de calda saíram dos favos e prenhes de mãos prenderam as vozes nos estendais de peito raso. malvasia escorreu no tampo da mesa. a seiva imaculada da tinta uva sorveu-se com a língua até à última gota do dia.
2 comentários:
já tinha saudade de repousar um pouco nesta teia de palavras mansas .. cheias de significado.
Obrigada amiga sine * votos que esteja tudo a correr como quer por aí :)
Excelente, como sempre.
E belo, este teu texto.
Beijinhos.
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