reflexos de vida no silêncio espelhado da água. fragas de vidro em descontinuidades do olhar ...

quarta-feira, novembro 29, 2006

Espantalhos Nacionais

Quando eu era criança, percebi pela primeira vez como os pássaros deviam ser tolos quando vi o meu primeiro espantalho. Como é que o comportamento dos pássaros podia ser tão radicalmente afetado por algo que é evidentemente uma fraude?

Hoje ainda me interrogo, não sobre o medo infligido aos pássaros pelos espantalhos, mas como é possível que a certos figurões ainda se dê crédito !

Entrevista a Alberto João Jardim

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mariza - Meu Fado Meu

O Fado- Malhoa
E há dias assim... em que me sinto infinitamente portuguesa.
Fernando Pessoa dizia que "o português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja, porque somos um grande povo de heróis adiados".

domingo, novembro 26, 2006

Cecilia Bartoli - Rinaldo - Lascia ch'io pianga



O homem em eclipse


Ora foi que certo dia
o homem eclipsou-se
a data digam a data
a datazinha faz favor
qual data foi por decreto
que a gente se eclipsou
foi só manobra espertice
um dois três e pronto é noite
que nem a lua apareça
seja de que lado for
Uns seguraram-se logo
eram espertos bem se viu
outros cairam ao mar
com cabeça pernas e tudo
quanto a mim perdi a calma
fiquei desaparafusado
tradição cultura estilo
certeza amigos fatiota
tudo fora do seu sítio
um desaparafuso terrível
Segurem-me camaradas
sinto pernas a boiar
cheiro fantasmas enxofre
estou aqui mas posso voar
o parafuso da língua
vai partido vai saltar
agarrem-me! agarra!
pronto
pari o mais leve que o ar


Mário Cesariny


























Hoje, vou estar por aqui!



quinta-feira, novembro 23, 2006

António Variações - Humanos - Maria Albertina - Sic Noticias

Maria Albertina

"Natural de Ovar, onde nasceu em 1909 ou 1912 (consoante as fontes consultadas), Maria Albertina foi uma das muitas cantadeiras de excelente voz que, por motivos tantas vezes inexplicáveis, nunca chegou a grande vedeta.Esta artista nortenha viveu no Porto a sua adolescência e só em Lisboa iniciou a sua carreira artística. Vinda dos retiros, estreou-se nos palcos do teatro ao lado de Berta Cardoso e Maria das Neves, em 1930, na opereta História do Fado, e participou em várias operetas, entre as quais Coração de Alfama, de 1935. Na revista, o seu maior sucesso é o Fado da Sardinha Assada, da revista de 1934, Sardinha Assada. Chega a ser cabeça de cartaz na revista O Dia da Espiga, de 1943, mas abandona o palco, dedicando-se a cantar nas casas típicas, sendo uma apreciada fadista com uma carreira que se prolongou até ao anos setenta. Chegou a fazer parte do elenco da casa de fados de Lucília do Carmo, o Faia.Como era habitual nos anos trinta e quarenta, actuou também em várias digressões brasileiras e foi considerada uma das melhores intérpretes de marchas populares lisboetas, uma ironia para alguém natural do Norte! Mãe do popular locutor televisivo Cândido Mota, Maria Albertina faleceu em 1984. "


La sede dell'Accademia Albertina

Anche se il nome di "Albertina" rimanda a Carlo Alberto di Savoia, a cui si deve la decisiva "rifondazione" dell'Accademia nel 1833, le origini di questa sono molto più remote, tanto che l’Accademia torinese si può considerare una delle più antiche d’Italia.


L'Accademia Albertina è situata nell'antica "Isola di S. Francesco da Paola", sede dell'omonimo convento annesso alla chiesa tuttora esistente, la cui facciata si trova su quella che si chiamava allora "Contrada di Po", e che la toponomastica attuale designa come via Po.
Su quest'area, e utilizzando in parte l'ala est del chiostro, ad opera di Giuseppe Talucchi fu progettato e realizzato, tra il 1820 e il 1930, l'edificio che ospita ancor oggi l'Accademia Albertina, e che ad essa fu donato sin dal 1833 da Carlo Alberto, nell'ambito della "rifondazione" dell'Accademia stessa da lui voluta e realizzata.

L'imponente facciata disegnata da Talucchi occupa per intero il lato est dell'isola, e si prolunga in una ulteriore manica a sud, ospitando oggi, oltre a numerose Scuole dotate di ampi spazi, la ricca Biblioteca Storica e la pregevole Pinacoteca, estendendosi per ben cinque piani fuori terra."

quarta-feira, novembro 22, 2006


Albertina


"Com sua coleção gráfica famosa, o Albertina é considerado um dos museus os mais importantes no mundo. Aqui, se pode encontrar os estudos dos Hare” e do Klimt do campo de Dürer “das mulheres.
Uma vez os quartos vivos os maiores de Habsburg, o Albertina sentam-se majestosa na extremidade sul do palácio imperial em um dos últimos bastions restantes de Viena.
Fundado em 1776 pelo duque Herzog Albert de Saxe-Teschen, a coleção contem mais de 1 milhão cópias e 60.000 desenhos.

Os trabalhos famosos tais como os Hare do campo de Dürer “” e as “mãos dobradas para estudos do Prayer,” do Rubens das crianças as well as masterworks de Schiele, Cézanne, Klimt, Kokoschka, Picasso e Rauschenberg são mostrados em exhibitions em mudança.

O Albertina possui também uma coleção da arquitetura e uma colecção recentemente criada das fotografias (o newton e Lisette de Helmut modelam, entre outro).

Os quartos do estado dos quartos vivos os maiores da família de Habsburg foram ocupados uma vez pela filha favorita do Empress Maria Theresia, Archduchess Marie-Christine, mais tarde por seu Archduke adotado Karl do filho, vencedor da batalha de Aspern de encontro a Napoleon. Fazer & o Co Albertina caters a seu cada desejo culinary no nível o mais elevado.

Localizado imediatamente ao lado da coleção de Albertina, Café Albertina e o Augustinerkeller oferecem muitos specialties culinary do cuisine Viennese."

Maria Albertina

Maria Albertina deixa que eu te diga....
Maria Albertina deixa que eu te diga....

Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto
Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto

Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina
Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina

Maria Albertina deixa que eu te diga....
Maria Albertina deixa que eu te diga....

Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto
Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto

Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina
Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina

Maria Albertina deixa que eu te diga....
Maria Albertina deixa que eu te diga....

Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto
Esse teu nome eu sei que não é um espanto mas
é cá da terra e tem
tem muito encanto

Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina
Maria Albertina como foste nessa
de chamar Vanessa à tua menina

que é bem cheiinha e muito moreninha (repetir)

Os Humanos( Camané)

segunda-feira, novembro 20, 2006


Albertina

ou O insecto-insulto ou O quotidiano recebido como mosca

O poeta está
só,completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção,alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.
Mas o poeta
é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa,aquela
Que tantas vezes arrastou pelos cabelos...

A mosca Albertina,
que ele domesticava,
Vem agora ao papel,com um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...
Quase mulher
e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica,mosca-mulher,por ali...

-Albertina!,deixa-me
em paz,consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!
-Albertina!,eu
quero um verso que não há!...


Conjugal,provocante,moreno
e azulado,
O insecto levanta,revoluteia,desce
E,em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora com um insulto alado.
E o poeta
sai de chofre,por uns tempos desalmado...


Alexandre O'Neill

sábado, novembro 18, 2006

Turdus Merula

O merlo é um dissílabo que canta.
E perguntam vocês: mas que te deu hoje para te lembrares do melro, cantado por vozes do Brasil, numa geografia que não é a nossa?
E para vocês meus queridos ( dois ou três amigos que me visitam com a regularidade que me enternece o sorriso) responderei que acordo muitas vezes com o cantar dos melros no meu quintal. Alegra-me ver o seu saltitar e a destreza de voo e o laranja do bico do macho inspira-me na compra de camisolas. Achei na gravura a riqueza melodiosa do canto do melro e quis partilhá-la com vocês. Quando procurava a raíz etimológica da palavra encontrei estes "Cantores bons de bico" e, nem é tarde nem é cedo, experimentei fazer o link ( coisa que me anda a atormentar já há algum tempo, sem sucesso). Então não é que isto resultou! Afinal era tudo tão fácil!
Para mais alguém que passe aqui pelo beco, desculpem estes amadorismos bloguistas ( e os outros também) e esta informalidade no jeito.

sexta-feira, novembro 17, 2006



Que frio!

Pode não parecer, mas estou cheia de frio! Encontrei o casaco mas perdi os sapatos...



Notícias do beco(3)-Mails

Reparem no estado a que chegou a minha caixa de correio!Não tivesse eu dois gigas de espaço para armazenar tanta correspondência e, as cartas atapetariam a vizinhança. Fico espantada com os novecentos mails que tenho por abrir e que certamnete nunca mais lerei. Desculpas públicas a quem tão carinhosamente mos envia. Apresentem reclamação à Lurdinhas. Tempo livre? Só para dormir.Mas pouco! Se houver, neste momento, professores que estejam a fazer menos de 40 horas semanais dentro da escola, apresentem-se.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Virados do avesso por um "vira-latas" qualquer

Vêmo-los nascer. Bolinhas de pêlo com olhos ternos.Chichis por todo o lado, cocós por aqui e por ali, esfregona na mão, ralhete pronto na ponta da língua e eles de rabinho a dar a dar vêm ter connosco prazenteiros e descarados e nós...rendêmo-nos!
Têm vida de príncipes alguns, acarinhados e amados como seres humanos nunca serão. Alinham na brincadeira, e nós temos para eles brinquedos-ossos, brinquedos-bolas... brinquedos-vida são eles que nos escutam, nos interrogam, nos fintam, nos testam, nos chantangiam e nos contagiam com aquela graça quadrúpede que se vai aninhando em nós.
Por eles "perdemos" noites e desdobramo-nos em cuidados: visitas regulares ao veterinário, vacinas em dia, desparasitante embuçado em mimos gastronómicos para alívio deles e nosso . Dos passeios matinais ou de fim do dia fica a compensação de ver a excitação e a alegria desmedida com que nos indicam a porta de saída como se da casa percebessem melhor que nós.
Depois quando sabemos que há quem os abandone, ficamos assim , sem perceber como é que alguém pode ser tão insensível e cruel.

quarta-feira, novembro 15, 2006



Metafísica

...Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando....


Álvaro de Campos ( Tabacaria)

Notícias da escola(1)
A Bárbara de 8 anos escreveu"Quando apanhamos a onda da ternura, a vida fica mais bela".

domingo, novembro 12, 2006


Notícias do Beco (1)

Hoje acordei com um cantar diferente no quintal. Belisquei-me. O céu azul, límpido e sublime,a temperatura quente para esta altura do ano, a humidade relativa do ar morna e... dois papagaios ainda bebés(acho) transportaram-me para paragens tropicais, que não as do meu beco.
Como vieram ali parar aquelas duas lindas criaturas? Quem se livrou delas ou as deixou escapar?
A palmeira centenária, paraceu cumprir ali a sua missão neste quintal.

Notícias do Beco (2)

As minhas cegonhas voltaram. Sem o filhote. Segundo especialista da área já deve ter ido para a tropa ou então foi ver o Gato Fedorento e foi raptado pela Floribela.



Vamos ...é domingo!

Vamos a hacer limpieza general

Vamos hacer limpieza general

y vamos a tirar todas las cosas

que no nos sirven para nada, esas

cosas que ya no utilizamos , esas

otras que no hacen más que coger polvo

las que nos hacen daño, ocupan sitio

o no quisimos nunca tener cerca.

Vamos a hacer limpieza general

o, mejor todavia, una mudanza

que nos permitea abandonar las cosas

sin tocarlas siquiera, sin mancharnos

dejándolas donde han estado siempre;

vamos a irmos nosotros, vida mia,

para empezar a acumular de nuevo.

O vamos a prenderle fuego a todo

y a quedarnos en paz, con esa imagen

de las brasas del mundo ante los ojos

y con el corazón deshabitado.

* Para um casal de amigos

Amalia Bautista

sábado, novembro 11, 2006


Avoir le mal de St. Martin –[ estar com ressaca]
Agora não se esqueçam...!

S. Martinho- da lenda à vida

«Martinho de Tours (São) -Bispo de Tours (n. actual Szambatkely, Hungria, 316 ou 317- m. Candes, França, 8.11.397).

Filho de um oficial do exército romano e nascido num posto militar fronteiriço, após estudos humanísticos, em Pavia, aos 16 anos entrou para o exército quando já a sua vontade o inclinava a fazer-se monge (aos 10 anos inscrevera-se como catecúmeno).

Em breve ganhou fama de taumaturgo.Em Amiens, provavelmente em 338, durante uma ronda nocturna no rigor do Inverno encontrou um pobre seminu: não tendo à mão dinheiro para lhe valer, com a espada dividiu ao meio a sua clâmide que repartiu com o desconhecido.

Na noite seguinte, em sonhos, viu Jesus, que disse:"Martinho, apesar de somente catecúmeno, cobriu-me com a sua capa."

Recebeu o baptismo na Páscoa de 339, continuando como oficial da guarda imperial até aos 40 anos. Abandonando a vida castrense, foi ter com Sto. Hilário de Poitiers, que lhe conferiu ordens sacras e lhe deu possibilidade de levar vida monacal: nasceu, assim, o famoso Mosteiro de Ligugé.

Eleito, por aclamação, bispo de Tours, foi sagrado provavelmente a 4.7.371.Ardente propagador de fé, fundou, em Marmoutier, um mosteiro donde sairam notáveis missionários e reformadores. Demoliu templos pagãos e levantou mosteiros como sustentáculos da evangelização.

Humilde e pacífico, manteve a sua independência perante o abuso da autoridade civil.O fascínio das suas virtudes radicadas na generosidade do seu zelo, na nobreza de caracter e, sobretudo, na sua bondade ilimitada mantida para alem da morte na prodigalidade dos seus milagres, magnificamente descritas pelo seu discipulo Sulpício Severo, fez com que S. M. T. fosse durante muitos séculos o santo mais popular da Europa Ocidental. A sua memória litúrgica é a 11 de Novembro.»


Oliveira, Alves de- "Martinho de Tours (São)", Enciclopédia Luso- Brasileira de Cultura, vol. 13 (Editorial Verbo)

sexta-feira, novembro 10, 2006



Mário Viegas

Uma pequena homenagem a Mário Viegas. Nasceste meia hora antes do dia de S. Martinho. A esta hora que te escrevo estaria a minha querida Professora Mariana Viegas, há 58 anos atrás, em trabalho de parto.Que excelente ser ela pôs no mundo. Partiste, mas não estás morto. Estive a ouvir-te há pouco. Disseste como ninguém as palavras!


Carta a meus filhos

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural.Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver.
Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente `a secular justiça, para que os liquidasse “com suma piedade e sem efusão de sangue.”Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciênciade de haver cometido.
Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos.Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus. Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor.
Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la. É isto o que mais importa - essa alegria. Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -não hão-de ser em vão. Confesso que muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam “amanhã”. E, por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.

[Jorge de Sena]

quinta-feira, novembro 09, 2006



La Bohéme

Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
ne peuvent pas connaitre
Montmartre em ce temps lá
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenętres
ne peuvent pas connaitre
Montmartre em ce temps lá
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenętres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est la qu'on s'es connu
Moi qui criat famine"

Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est la qu'on s'es connu

Moi qui criat famine
Et toi qui posait nue
La bohéme, la bohéme
Ça voulait dire on est heureux
Et toi qui posait nue
La bohčme, la bohčme
Ça voulait dire on est heureux
Nous ne mangions qu'um jour sur deux
Dans les cafés voissins
Nous étions quelques uns

La bohčme, la bohčme
Nous ne mangions qu'um jour sur deux
Dans les cafés voissins
Nous étions quelques uns
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistrot
Qui attendions la gloire et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistrot
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poęle
En oubliant l'hiver"
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poęle
En oubliant l'hiver
La bohčme, la bohčme
Ça voulait dire on es jolie
La bohčme, la bohčme"
La bohčme, la bohčme
Ça voulait dire on es jolie

La bohčme, la bohčme

Et nous avions tous du génie
Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Et nous avions tous du génie
Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin

Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin
Qu'on s'asseyait enfin
Devant un Café-Creme
Epuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime


Qu'on s'asseyait enfin
Devant un Café-Creme
Epuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime
Et qu'on aime la vie
La bohčme, la bohčme
Ça voulait dire on a vingt ans
Et qu'on aime la vie

La bohčme, la bohčme

Ça voulait dire on a vingt ans
Et nous vivions de l'air du temps
Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire um tour

La bohčme, la bohčme

Et nous vivions de l'air du temps
Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire um tour
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui out vu ma jeunesse
A mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui out vu ma jeunesse
En haut dún escalier
Je cherche l'atelier Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor

haut dún escalier
Je cherche l'atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
et les lilas sont morts
La bohčme, la bohčme


Montmartre semble triste
et les lilas sont morts

La bohčme, la bohčme
La bohčme, la bohčme
Ça ne veut plus rien dire du tout
On était jeunes, on était fous
La bohčme, la bohčme
Ça ne veut plus rien dire du tout
Charles Aznavour

segunda-feira, novembro 06, 2006



Golegã

Perde-se no tempo a tradição da Feira Nacional do Cavalo, na Golegã. A pacata vila ribatejana anima-se ao longo de uma semana, albergando milhares de amantes da arte equestre e curiosos visitantes, com a nostalgia do afã da lezíria, doutros tempos. As casas senhoriais abrem-se em festa exibindo resquícios de uma fidalguia marialva enquistada entre a opulência e o bafio.

Coches... carruagens... amazonas, com garbo, trajando à portuguesa e à espanhola... homens metidos em fatos ajustados numa aprumada elegância de toureio, pouco conciliadora com protuberâncias, bandulhos e panças ...chapéus, esporas, chicotes, plainas, safões, abotoaduras... desfiles de moda inalteráveis e afirmados pelos costumes que não os deixam desabitados.

Várias modalidades desportivas se põem em evidência. Organizam-se ralies, raids, jogos equestres, campeonatos, maratonas de carruagens, exibições, concursos, exposições... onde toda a classe de cavaleiros e condutores pode ter cabimento e onde o público mais variado encontra motivo de distracção.

E no centro de tudo isto está a beleza dos enormes atributos do cavalo! A nobreza, a altivez, a inteligência, o porte...predicados que se aliam à excelência e ao apuro com que as coudelarias nacionais vão sabendo preservar as raças, em especial a do cavalo lusitano.

Na Golegã, por estes dias, os carros são substituídos por cavalos e cavaleiros...em cada casa uma tasca.Cocheiras atulhadas, cavalariças e boxes improvisadas, todo o espaço é pouco para dar guarida condigna ao belo quadrúpede.

Entre brumas de chuva e alveiradas de tradição, mescla-se o ar com o cheiro das castanhas assadas e excrementos do digno animal, numa profusão quente de aromas agridoces que nos remontam a épocas medievais.

Que o Tejo se acalme de inundações para que o acesso à vila ribeirinha não tire o prazer aos potenciais visitantes, que no Dique dos Vinte, alagado, encontram obstáculo natural a esta festa que do S. Martinho é cativa.

domingo, novembro 05, 2006



Tanto mar

Compositor, intérprete, dramaturgo e escritor, Chico Buarque é referência obrigatória em qualquer citação à cultura brasileira do nosso tempo.
Fui vê-lo, ontem, ao Coliseu de Lisboa. Levava comigo décadas de admiração, de enorme cumplicidade com os textos e músicas, com que me preencheu a vida, numa dávida ilustre e generosa que só os grandes artistas versam.
E fez-se raíz no palco, como se dele os membros lhe pertencessem. Surgiu estático e estático permaneceu.
Qé dê do moleque...do malandro? Sexagenário sim!Continua lindo! Com novo trabalho soberbo. Sem desmérito! Mas que teve falta de comparência, afastamento, atitude triste e monocórdica. Sem brilho!
Ele que sempre soube mostrar sob ângulos insupeitados as verdades nuas e cruas que encerra o seu Brasil, assim como representações fiéis de nós, com uma atitude de grande comunidador, tocando-nos, mostrou que a voz continua com as mesmas inflexões, com o mesmo timbre e sedução, mas sem expressão, sem companhia!
De cabeça erguida, olhando em frente como se talas invisíveis o imobilizassem, ombros e braços caídos, ou tocando na viola inerte de movimento, assim ficou quase sempre...
No final a exigência dos muitos que, como eu, certamente esperavam mais. E ele deu-se um pouco... e nós abraçámo-lo entre cantares que sabiamos de cor e palmas.
Tanto mar!Tanto mar para navegar e ficámos ancorados no cais sentindo o gostinho da maresia e a ausência da viagem...contigo. Mando-te um cheirinho a alecrim, pá!Por tudo, sempre!